A importância da comunicação nas comunidades periféricas
Por Marli Condes*
A comunicação nas comunidades periféricas é de extrema importância e deve ser valorizada e incentivada. Em muitos casos, essas comunidades enfrentam enormes desafios relacionados ao acesso à informação e à participação plena na sociedade. Quando a comunicação é promovida e reconhecida nessas áreas, ela pode desempenhar um papel transformador não só para as periferias, mas para todo o ambiente urbano.
Primeiro, quando feita de forma eficaz, a comunicação nas comunidades periféricas fortalece o senso de pertencimento e a coesão social. Ao compartilhar informações e experiências, os membros da comunidade atam mais firmemente seus laços de união e fortalecem o apoio mútuo, o que é fundamental para a construção de uma identidade comunitária e para o enfrentamento do conjunto dos desafios locais, que não são poucos nem triviais.
A comunicação bem-feita nas comunidades também pode ser uma poderosa ferramenta de mobilização social na defesa de direitos. Para isso, ela deve informar a comunidade sobre os direitos individuais e coletivos, os recursos disponíveis (ou que deveriam ser buscados) e as oportunidades existentes para obter capacitação na luta por melhorias nas condições de vida, assim como mostrar os caminhos para a participação ativa nos processos de tomadas de decisões que afetam as vidas de cada um e do conjunto.
Inovação e desenvolvimento sustentável
Inovação e desenvolvimento sustentável são dois termos muito usados hoje, principalmente nas questões ligadas ao mundo econômico, assim como à administração pública nas esferas federal, nos estados e municípios. Contudo, o incentivo à inovação e ao desenvolvimento sustentável nas comunidades periféricas é fundamental pois pode contribuir para solucionar problemas que afetam, de maneira direta, sem intermediários, a vida de milhões de pessoas em nosso país.
Compartilhar conhecimentos e práticas locais pode levar à criação de soluções adaptadas às realidades específicas de cada comunidade, promovendo um desenvolvimento mais inclusivo e eficiente. Projetos comunitários que surgem a partir de discussões locais têm maior probabilidade de atender às necessidades reais da população e de serem sustentáveis a longo prazo.
No entanto, o problema é que, em geral, a comunicação nas comunidades periféricas não é suficientemente respeitada e valorizada. Falta de Recursos e Infraestrutura: Muitas comunidades carecem de acesso a plataformas de comunicação modernas ou tecnologia adequada. Sem recursos como internet de qualidade ou dispositivos tecnológicos, as formas tradicionais de comunicação, como reuniões comunitárias ou murais de anúncios, podem ser limitadas e menos eficazes. Acesso e Inclusão Digital: A falta de acesso a tecnologias digitais e internet pode limitar a capacidade das mídias periféricas de alcançar uma audiência mais ampla. Sem plataformas digitais e redes sociais, essas mídias podem ter dificuldade em expandir seu alcance e impacto.
Estigmatização e Preconceito: Comunidades periféricas muitas vezes enfrentam estigmatização e preconceito. Isso pode se refletir na forma como suas iniciativas de comunicação são tratadas, com uma tendência a desconsiderar ou subestimar o impacto e a relevância das mídias locais.
Centro e periferia
O reconhecimento e a ampliação das vozes das comunidades não só garantem que a diversidade de experiências e perspectivas seja refletida no cotidiano de muita gente local, mas também podem contribuir para a promoção de um maior entendimento e para o surgimento de trocas solidárias do saber e de soluções entre o centro e a periferia, entre os bairros mais bem equipados da cidade e a periferia. De outro lado, ignorar ou desconsiderar essa comunicação, pode perpetuar a marginalização e a exclusão.
Portanto, apoiar e amplificar a comunicação nas comunidades periféricas não é apenas uma questão de justiça social. É, também, uma estratégia para promover um desenvolvimento mais equitativo e sustentável. Reconhecer a importância dessa comunicação e trabalhar para sua valorização pode gerar impactos positivos, profundos e duradouros na vida das pessoas, seja nas comunidades, seja no ambiente geral das cidades brasileiras.
- Marli Condes é ativista de direitos humanos, Membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, é uma das coordenadoras da RedeD (Rede Democracia e Direitos Humanos), do Encontro das Periferias de São Paulo e SP lutas.