A Resistível Ascensão de Arturo Ui
Roberto Marti – RedeD
A montagem de A Resistível Ascensão de Arturo Ui em 1958, dois anos após a morte de Brecht, dirigida por Heine Muller, tornou-se um dos espetáculos de maior sucesso da história do Berliner Ensemble, grupo fundado por Bertolt Brecht, em 1954. No Brasil foi montado pelo Teatro de Arena em 1970, com direção de Augusto Boal, com Gianfrancesco Guarnieri no papel título.
Com texto escrito em 1941, o espetáculo é uma paródia sobre Hitler, uma alegoria satírica sobre a ascensão do nazismo na Alemanha, ambientado no submundo dos gangsteres de Chicago. Criminosos de guerra como Goebbels, Goering e Röm são facilmente identificáveis.
Arturo Ui e sua gang são um espelho da violência, xenofobia e intolerância que infestam os nossos mundos físico e virtual, sendo inevitável a lembrança do sistema político brasileiro e de diversos outros países, com a constante atos de violência e com a exacerbação da cultura do ódio.
Brecht aproveita para falar do mundo egoísta e pervertido do capitalismo e por extensão da sociedade que o mantém.
A Resistível Ascensão de Arturo Ui traz à tona as dinâmicas sociais que permitem o crescimento do pensamento fascista: crise econômica, a burguesia procurando defender seu lugar, o discurso populista, a ambição por dinheiro e poder que torna todos corruptíveis
A ascensão de Arturo Ui /Hitler foi resistível, ou seja, poderia ter sido evitada.?
Brecht entende que sim.
No Brasil, tivemos há 60 anos o golpe militar que durou 21 anos. O impeachment de Dilma permitiu que a direita tomasse o poder e com a eleição do messias a extrema direita se instalou no planalto.
Poderia ter sido resistível a ascensão da extrema direita representada pelo mitômano? Como evitar uma nova Ascenção neste momento em que há uma escala da direita no mundo todo?
Onde acertamos? Onde erramos?
Vamos lembrar os pontos fortes, fracos e vulneráveis do inimigo. Sim, porque não estamos falando de rival e, sim, de inimigo.
Seu discurso tosco, conservador, anticomunista, o jargão Deus, pátrias e família, moralista, conseguiu atrair em torno de sua candidatura o apoio de empresários dotados de grandes recursos financeiros e o que há de mais retrógrado nas igrejas evangélicas populares. Apostou na polarização com o partido que tinha força eleitoral para vencê-lo, explorando o antipetismo da época e o desgaste de seu principal dirigente, Lula, preso por manobras espúrias de Moro, Lava-Jato et caterva.
Seu discurso raso sensibilizou uma população politicamente desinformada polidamente.
Apresentou seu discurso bem embalado, com imagens que representam os anseios do homem comum, especialmente da classe média: o fodão, o macho alfa corajoso, sem papas na língua que enfrenta aos poderosos,
E dá-lhes motociatas, jet-ski, sinais ostensivos de prosperidade e impunidade. Os escândalos de corrupção, de rachadinha, da compra de imóveis em quantidade e com dinheiro vivo não sensibilizaram boa parcela da população. A escalada da violência, estimulada pela liberação sem critério de compra de armas e mesmo o assassinato de Marielle e outros personagens que lhe oferecia perigo, ainda que parceiros e cúmplices em muitos crimes, não provocou estragos consideráveis.
Leva esse discurso, esses valores distorcidos para atos públicos produzidos com recursos ilimitados, com microfones iguais ou melhores do que os do Rock in Rio. O ônibus fretado pelos partidos políticos, pelas associações e grupos fundamentalistas, especialmente da igreja evangélica, garante presença de público.
É clichê, mas não deixa de ser verdade que a extrema direita sabe utilizar as redes sociais, inclusive com a exploração do que ela apresenta de mais nocivo, as fake News. Sem escrúpulos, com recursos financeiros abundantes, ganharam uma eleição em 2018, por pouco não 0 reelegeram o Inominável em 2022,
Conseguiram eleger, senadores deputados e vereadores, que se constituem em sérios entraves ao esforço de reconstrução da democracia e valorização dos direitos humanos sem exclusão.
Nem a condução absurdamente incompetente da epidemia impediu que a extrema direita obtivesse grande votação em 2022, conquistando o executivo em muitos e importantes Estados e cidades, arrebatando o voto de algo como 1/3 da população votante.
As forças progressistas erraram bastante. Quando o indivíduo se apresentou como candidato foi considerado ridículo pelos que defendem a democracia. De fato, parecia ridículo que um obscuro capitão exonerado, inculto, tosco mesmo, eleito parlamentar em mandatos sucessivos, sempre com uma atuação apagada, com um discurso inconsistente, conservador, tivesse a pretensão de vir a ser presidente do Brasil.
Subestimamos o inimigo, o que, politicamente é um erro. Especialmente quando o inimigo consegue atrair em torno de sua candidatura apoio de empresários dotados de grandes recursos financeiros, o que há de mais retrógrado nas igrejas evangélicas populares e contando com uma população desinformada politicamente.
Conseguimos evitar o pior nas últimas eleições, mas a reconstrução do país não é tarefa para amadores. A instauração de uma democracia plena, nunca antes vivida neste país, com respeito aos direitos humanos sem exclusões de raça, sexo, gênero, credo, idade é um desafio para algumas gerações mas precisa ser trabalhada já!
A tentativa de golpe em 08/01/2023, com apoio de parte dos militares e políticos, demonstrou que o inimigo continua forte. Contou com apoio de parte dos militares, políticos empresários, parcela da população politicamente despreparadas, mas que resultou embora o 8 de janeiro de 2023, marcado como um dos maiores ataques sofridos pela democracia nos tempos modernos
Em São Paulo no dia 08/01/2024, as forças democráticas realizaram um ato púbico repudiando a tentativa de golpe e gritando pela punição aos golpistas. Pouco envolvimento na preparação do ato, produção pobre, divulgação fraca fizeram que um momento importante pró democracia não reunisse gente em mais do que os mais do que dois quarteirões da Av. Paulista., boa parte constituída de senhoras e senhores de cabelos e barbas brancos
No domingo, 25.02/2024 o genocida conseguiu levar milhares de pessoas à Av Paulista pedindo, despudoradamente, anistia para os golpistas. Há um bom tempo não conseguimos colocar tal contingente equivalente em praça pública. Há que se refletir sobre isso.
Não nos enganemos, o povo (eleitor) m especialmente os mais jovens, não conhece nada sobre ditadura. Fora uma pequena faixa da população, o que foi ditadura parece não lhe afetar a vida.
O dado mais assustador da pesquisa realizada com os manifestantes do ato pró-Bolsonaro, neste domingo (25), na avenida Paulista, é que 88% acreditam que foi ele e não Lula quem de fato ganhou as eleições de 2022.Ou seja, quase 90% de ato pró-Bolsonaro vivem realidade paralela em que Lula perdeu. Ou seja, para eles, foi o petista e não Jair quem deu o golpe.
O governo que nós, democratas, ajudamos a eleger tem feito muita coisa boa, não obstante as concessões que é obrigado a fazer já que foi eleito por uma coalisão, que congrega facções diferentes do espectro político. É preciso lembrar e divulgar.
A direita é barulhenta, mas a realidade é já houve um avanço estamos bem melhor e pela primeira vez no Brasil militares serão julgados por civis e serão presos. Mauro Cid já está preso. Estamos com a presidência, numa frente ampla, não tão diferente dos governos anteriores do PT, que dependeram sempre dos votos do Centrão e do PMDB, assim como Fernando Henrique dependeu do Centrão e do PFL
Estamos aprendendo a lidar com as redes sociais, mas ainda é pouco. Iniciativas como a da RedeD que realizou um curso sobre a s redes sociais e como utilizá-la eficazmente sem prejuízo da ética devem ser incentivadas e reproduzidas.
Preparar atos públicos, manifestações com maior cuidado e divulgação deve ser valorizado.
Enquanto os evangélicos fazem uma campanha ideológica, além de uma intervenção pragmática na vida dessa população, nós fazemos discursos para meia dúzia. Não temos penetração na periferia das cidades, quase nenhuma interferência na educação, muito menos nos sindicatos. Com quem Lula pode contar? Elegemos um número de representas pouco significativo.
E, não podemos errar tanto!
Presidente Lula, que tem demonstrado sua inteligência, sua perspicácia e intuição política, mesmo em situações em que seus eleitores tinham dúvidas e até discordâncias, como na escolha de Alkmin para seu vice, em sua uma entrevista ao programa “É Notícia”, da Rede TV, conduzido por Kennedy Alencar, foi exaltado por muitos pelo seu pragmatismo e cálculo político. São suas palavras:
“Isso já faz parte da história, já causou o sofrimento que causou, o povo conquistou o direito de democratizar este país, os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo. Eu, sinceramente, não vou ficar me remoendo e vou tentar tocar esse país para frente”, disse Lula.
Com todo o respeito, presidente, achamos, assim como os familiares e vítimas da ditadura, que o senhor errou! Não cabe pragmatismo nesta questão, dizer que o golpe de 64 é história. Mais uma vez, é necessário lembrar para que não se repita. Falar sobre o golpe não é “remoer o passado”.
Repudiar veementemente o golpe de 1964 é uma forma de reafirmar o compromisso de punir os golpes também do presente e eventuais tentativas futuras.
Nós não vamos esquecer o que lhe fizeram, portanto, não esqueça o que nos fizeram..
Precisamos lembrar o passado, aprender com ele, para que não se repita no futuro.
Há pontos em que não se pode ceder. Sem anistia para os golpistas de 8 de janeiro. Que sejam punidos!
É urgente que se reinstale a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, instituída por lei e cancelada por uma canetada daquele que o antecedeu na Presidência cujo decreto está na Casa.
O Brasil tem que aprender que não pode haver desaparecidos, que a uma filha, não lhe pode ser negado ver o corpo de seu pai barbaramente torturado e que a um irmão, não pode ser negado o direito de velar seu irmão nem de se demorar no enterro do neto, a uma companheira a um pai, a uma mãe
A democracia precisa de você, companheiro.
Se você acredita que, mais do que nunca, é importante se engajar em um trabalho de consolidação da democracia e defesa dos direitos humanos existem vários movimentos e entidades nessa luta.
A RedeD, em processo de institucionalização, será em breve o Instituto Rede Democracia e Direitos Humanos, o RedeD é uma delas,
Você está convidado a se juntar a nós, associe-se, apoie. Empreste seu saber, sua experiência, sua indignação para, juntos, evitar a ascensão o retorno ao poder da extrema direita.
Vamos juntos repensar nossas estratégias, fazer valer nossa Carta de princípios, tornar realidade pontos importantes de nosso programa de atuação. Venha nos ajudar a alcançar os jovens, para que possam trocar seus saberes com a geração de cabelos brancos.
Precisamos de você para ampliar a ação de educação política procurando alcançar o jovem da periferia, para não limitar nosso discurso a nossa bolha, aprimorar nosso conhecimento tecnológico de forma a utilizar adequadamente as redes sociais
Ajude-nos a encontrar formas de sustentabilidade financeira aos nossos projetos/sonhos!
Há muito o que fazer:
Temos, ainda em 2024, o desafio de mostrar força nas eleições municipais, escolhendo prefeitos e vereadores progressistas. Temos que nos preparar para 2026!
Há que se resistir a ‘ascensão política de algum Arturo Ui
É importante lembrar que um mundo diferente não pode ser construído por pessoas indiferentes. Precisamos de sua mente, seu coração, seu braço, sua alma.
Como dizia Brecht, sempre ele, há que se temer mais que a morte a vida insuficiente.