De novo, mais do mesmo
Selma Leite, professora de Filosofia, integrante da APROFFESP e da Comissão Justiça e Paz de São Paulo
O Governo do estado de São Paulo está lançando as novas diretrizes educacionais para o ensino médio para 2024, não causou surpresa, mas indignação à constatação de que disciplinas importantes para o desenvolvimento humano foram sumariamente restringidas, especificamente, filosofia, artes e sociologia. No lugar, matemática, português, robótica, educação financeira, oratória, entre outras.
Na busca por uma justificativa, o governo diz que foram consultados alunos e professores, decisão que atrelasse a terceiros para camuflar o real interesse do Sistema que sempre foi de bloquear as disciplinas de construção critica e de suma importância para o desenvolvimento das percepções da matrix em que vivemos.
Tão claro como Platão nos ensinou com o mito da Caverna, há a necessidade de governos, poderes e sistemas em manter o povo ocupado e distraído com pão, circo e tecnologia. No pé de uma sociedade pós-pandemia captada pela catarse do individualismo, solidão e necessidade do imediato vemos o governo de São Paulo tirar à possibilidade do jovem experenciar a humanidade em temas, pensadores, debates e construção de pensamento crítico. O jovem de hoje, principalmente pobre, está novamente, assim como nos anos 80, sendo alvo do empresariado, como mão de obra solícita, ajustada as necessidades e demandas das esteiras do capital. A humanidade que tanto faz falta no meio social vigente, doentio, motivado por ações de violência, ódio e a desconstrução da verdade.
No lugar da ética filosófica, a religião alienante. No lugar da lógica e a capacidade de reconhecer argumentos falsos e falácias, como Aristóteles nos ensinou na tabela de verdade desenvolvida por ele, a oratória, a educação tecnicista. No lugar dos grandes filósofos existencialistas, Kierkegaard, Sartre, Simone de Beauvoir, Foucault, o projeto de vida. Poderíamos trazer Schopenhauer para discutir as questões de consumo, onde o desejo, à vontade e a necessidade de possuir, conquistar são prisões para o homem, mas os alunos terão educação financeira.
Tudo isto na perspectiva de uma escola pública doente, com sérios problemas de convivência, respeito e problemas estruturais. A falência da educação está nítida, com capítulos de selvageria, desordem e descontrole. Professor desmotivado, psicologicamente abalado, frustrado e com uma sobrecarga de trabalho gigante, como nunca se viu. Parece que somos inimigos da sociedade, do meio, profissionais indesejáveis para os governos. Muitos agredidos fisicamente e psicologicamente, afastados por não conseguir suportar o desgaste psicológico e por um salário que muitas vezes é insuficiente diante das necessidades.
O sistema prepara o jovem para a vida que eles projetam, o homem vai competir com a A.I. e de longe sabemos que haverá um novo celeiro de subempregos, cada vez mais escravos de um mundo competitivo, doente psicologicamente, pequeno nas relações sociais, mas profissionais capacitados e senhores da tecnologia, em um mundo que necessita mais empatia, dignidade e respeito mútuo.
De novo, mais do mesmo.
Francisco Paulo Greter
24/11/23 @ 10:35
Parabéns pelo artigo. Não vamos permitir mais este ataque à Filosofia! APROFFESP na luta!